Cento e 29 cirurgias do coração, dos quais 27 em crianças, foram feitas no complexo Hospitalar de Doenças Cardio-pulmonares Cardeal Dom Alexandre do Nascimento, em Luanda, desde a sua inauguração (30 de Novembro de 2021) até à presente data.
Do total de cirurgias feitas, cerca de 60 por cento foram por febre reumática, tumores do coração, aneurisma, doença da aorta e da válvula aórtica.
Febre reumática é um processo inflamatório que ocorre após um episódio de amigdalite bacteriana, causada por uma bactéria (Streptococcus), tratada inadequadamente. Pode atingir as articulações, o coração e o cérebro, deixando sequelas cardíacas graves, com consequências por toda a vida e podendo levar à morte.
O cirurgião cardio-vascular daquela unidade hospitalar, Waldano Manuel, que falava à imprensa no quadro do Dia Mundial do Coração, que hoje, quinta-feira, se assinala, manifestou-se preocupado com o facto de muitas crianças serem operadas com problemas reumáticos.
Estes casos, disse, têm afectado menores com idades pré-escolar (entre 4 e 5 anos), mas a sua manifestação inicia em geral por volta dos 10 anos de idade.
Infelizmente, salientou, ainda não existem estudos que demonstram que tipo de estirpe da bactéria streptococcus beta hemolítico causa esta doença, apesar de já existir algumas vacinas em estudo na África do Sul para combater a febre reumática.
Fez saber ainda que das 129 cirurgias realizadas, nove resultaram em óbito, devido à evolução crítica que apresentavam.
Waldano Manuel informou que esses pacientes ficam aproximadamente cinco anos à espera de cirurgia, chegando numa condição clínica muito mais deteriorada e grave, o que acaba impactando o resultado da cirurgia.
O hospital Cardeal Dom Alexandre do Nascimento recebe mensalmente para consultas cerca de 400 pacientes com problemas do coração, dos quais dois a três tornam-se candidatos a um transplante.
O cirurgião realçou que o país já aprovou a Lei do Transplante de células, tecidos e órgãos humanos (Lei nr 20/19 de 20 de Setembro), mas urge a necessidade da sua materialização, apesar da sua execução ser um processo oneroso devido a sua grande logística que passa desde infra-estruturas até aos fármacos.
Sobre a possibilidade de a unidade receber pacientes de outros países, defende que primeiro deve-se aumentar o número de cirurgias no país, para pelo menos 300, visando consolidar e melhorar os serviços de atendimento a nível nacional, só depois se poderá expandir.
O Complexo Hospitalar de Doenças Cardiopulmonares Cardeal Dom Alexandre do Nascimento tem capacidade de 400 camas.
Em termos de estrutura, o hospital já está quase a 100 por cento do atendimento previsível, porém defendeu a necessidade de comparticipação dos pacientes, para ajudar na sustentabilidade do próprio centro hospitalar, salientando que só o estado a custear não consegue suportar os custos.
Adiantou que hospital tem recursos para aquisição de material, o problema é como adquiri-los, pois o país não produz quase nada do que se precisa naquela unidade sanitária.